Por: Claudio Spanó
Desde a Primeira Revolução Industrial, o avanço tecnológico passou a atingir um ritmo bastante acelerado e isso se intensificou a partir da Segunda Revolução Industrial, entre meados do século 19 e meados do século 20, quando diversos produtos e equipamentos passaram a ser produzidos e comercializados: avião, automóvel, telefone, televisor e rádio.
Com a Tecnologia da Informação, novos processos foram aplicados no desenvolvimento de produtos e equipamentos, controlados por sistemas e robôs, quase perfeitos. Mas as mudanças que caracterizam a Terceira Revolução Industrial vão muito além das transformações industriais.
Hoje, não basta que uma empresa seja dominante no seu mercado de atuação. O surgimento de novas companhias e marcas mais inovadoras tem tirado a dominância de mercado dessas empresas. O Chief Executive Officer (CEO) tem de estar pronto para comandar processos de inovação dentro de empresas grandes, onde as decisões normalmente são mais lentas. O grande esforço deve partir do principal executivo. As melhorias na gestão dos processos devem estar na agenda estratégica do CEO.
Para manter a competitividade, as empresas são constantemente desafiadas a buscar diversas soluções para medir, controlar, corrigir e melhorar as falhas de seus processos, com o objetivo de monitorar de forma eficaz as variáveis internas de seu negócio, aprimorar seus produtos e serviços e aumentar sua participação em setores-alvo.
A Engenharia da Confiabilidade pode ser uma peça chave para o processo de gestão, permitindo especificar, projetar, testar e demonstrar a performance de vida de equipamentos, produtos, sistemas e linhas de processos.
A partir das informações obtidas com as análises de confiabilidade, é possível avaliar o impacto financeiro dos processos, evitando gastos desnecessários e promovendo melhorias na vida dos produtos e equipamentos.
O papel da Engenharia da Confiabilidade na gestão estratégica possui grande importância e impacta nas principais decisões das grandes empresas. Para apresentar os impactos e benefícios das decisões estratégicas, é interessante dividir o assunto em duas aplicações distintas: aplicação na Manutenção e Linhas de Processo e aplicação no Desenvolvimento de Produtos.
Manutenção e Linhas de Processo
A partir de análises de dados feitas com o apoio de metodologias (RAM, RCM, RCA, LDA), é possível avaliar os benefícios em plantas existentes ou em projetos de novas plantas. Estes benefícios incluem:
- Determinar a confiabilidade e disponibilidade da planta e seus ativos;
- Determinar a capacidade produtiva atual e simulação de cenários alternativos – otimizações;
- Determinar os planos de manutenção de forma estruturada – reduções de até 75% na quantidade de planos*;
- Definir as políticas de manutenção – redução de até 20% dos custos anuais*;
- Definir os estoques de reposição – redução de até 30% dos custos anuais*;
- Reduzir em até 20% o valor do prêmio do seguro patrimonial.
- Apoiar a decisão para investimentos em novos ativos.
O serviço de manutenção das empresas brasileiras tem evoluído bastante em setores como petroquímico, mineração, geração e transmissão de energia e papel e celulose, que conhecem mais da confiabilidade dos produtos que utilizam, do que os próprios fabricantes que as desenvolveram.
Com a aplicação da Engenharia da Confiabilidade nas áreas de manutenção e processos é possível analisar e monitorar a confiabilidade, mantenabilidade e disponibilidade de sistemas para otimizar as manutenções preventivas, preditivas, intervalos de inspeções e estoques de reposição, alinhando esses resultados a uma análise de custos (Lyfe Cycle Cost – LCC). Além da aplicação na manutenção e em linhas de processo já existentes, as ferramentas da confiabilidade têm uma grande importância no estudo e planejamento em projetos de novas plantas.
Desenvolvimento de Produtos
A partir da análise de dados feita com as metodologias da Engenharia da Confiabilidade (LDA, QALT, RAM, FMEA, FRACAS, DFR) todo o ciclo de desenvolvimento de novos produtos é controlado com precisão. Principais benefícios:
1. Fase de Definição/Conceituação
- Determinar a confiabilidade do produto ainda na fase de conceito;
- Priorizar os itens críticos para testes de confiabilidade
- Aplicação da sistemática de Design for Reliability de maneira sistemática – redução de até 30% nos custos de garantia e melhoria da qualidade da marca*
- Definir a relação entre confiabilidade vs. condições operacionais/ambientais – redução de até 80% na ocorrência de recalls
- Definir os fornecedores que atendam aos requisitos de confiabilidade – redução de 70% das falhas prematuras*
- Executar Ensaios de Confiabilidade Acelerados – redução de até 60% na duração do tempo de testes e aumento em 90% na correlação entre o teste de bancada e a utilização em campo*
- Monitorar o crescimento da confiabilidade e determinar o ponto de maturidade ideal – liberação para produção
- Monitorar a confiabilidade dos lotes – redução de Recalls e custos de garantia.
- Acompanhar a confiabilidade do produto no campo
- Fazer o levantamento da confiabilidade através de análises de dados de garantia – redução dos custos de garantia
- Uso do conhecimento da confiabilidade do atual produto para subsidiar novos projetos
Posso afirmar que o único impedimento para utilização das metodologias quantitativas é o fator cultural, tal qual encontramos em qualquer processo de mudança. Isto é fácil de se comprovar na indústria brasileira. Basta indagar a um fabricante de qualquer produto: Qual a probabilidade (em porcentagem) do produto falhar, após utilizá-lo por uma semana, um mês, um ano ou até cinco anos? Se ele responder a todas as perguntas, incluindo os limites de confiança (a variação estatística) nas respostas, esta empresa possui um processo de confiabilidade implementado. O fato é que a maioria dos fabricantes não irá responder ou tentará escapar das questões dizendo que esta informação é confidencial.
O curioso é que muitas empresas têm se apropriado do marketing da confiabilidade para promover a qualidade dos produtos, só que de maneira subjetiva e não quantitativa. Com o advento da Engenharia da Confiabilidade, que envolve a utilização de cálculos matemáticos, é possível medir com exatidão a probabilidade de uma peça desempenhar sua função por um determinado tempo sem falhar. O consumidor está atento a tudo isto. Na verdade, o cliente não se preocupa com a confiabilidade e sim com a falta dela.
*os valores apresentados são baseados projetos já realizados, entretanto esses valores podem variar para menos ou para mais dependendo da situação atual da empresa.
Claudio Spanó é engenheiro mecânico e diretor executivo da ReliaSoft no Brasil. Especialista na aplicação de ferramentas da qualidade, já realizou consultorias e treinamentos em empresas como Petrobras, PDVSA, Alcoa, Alumar, Volvo, Mineração Rio do Norte (MRN), Vale, Robert Bosch, Valeo e John Deere.
1 Comentários
Sou estudante de Engenheira de Producao, como posso especificar a confiabilidade na Produção?
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